segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Paga-se... em prejuízo próprio!

Há dias, na Junta de Freguesia, reclamava-se a propósito da rede de saneamento básico, bem pago por todos os munícipes, e que, efetivamente, nunca funcionou de forma eficiente. São constantes as ruturas e as descargas para a via pública, para o rio e até para os muros e terraços das casas mais próximas. O cheiro é nauseabundo, os resíduos que ficam entranhados, verdadeiras vergonhas que associo a países do terceiro mundo.

O Presidente da Junta, invadido por um verdadeiro sentimento de impotência, que contraria os pressupostos de uma política de proximidade, mostrava os vários ofícios enviados à empresa municipal responsável que, até ao momento, se limitara a meras simulações de resolução do problema. Soluções definitivas? Por ora, nada.

O problema, dizem, está na conduta e na ausência de cota suficiente numa das ruas. Muito bem, nós acreditamos. É um problema de conceção, e daí? Não se apuram responsabilidades? Quem foram os responsáveis pela obra? Quem foi o engenheiro que assinou o projeto? A cota não sofreu quaisquer alterações desde a execução da obra…

Para um problema tão grave, as respostas continuam demasiado vagas e inconsequentes. A verdade é que a questão principal está assegurada… a população continua a pagar. Paga-se prejuízo próprio, da comunidade e do meio ambiente!!!.... É tão lindo ver o mundo de pernas para o ar!

As culpas vão “morrendo solteiras”. Normalmente, a culpa é do edil, do executivo, ou dos engenheiros anteriores. Afinal, a culpa não é sempre dos outros? Não são sempre os outros, os vis e os cobardes? Nós temos sempre uma conduta irrepreensível…focada no bem da comunidade!

Estas atitudes (ou ausência delas) fazem-me recordar o poema de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, “Poema em linha reta”.





quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Cavaco Silva e o facebook

O Presidente da República (PR), Cavaco Silva, colocou um comentário na sua página da rede social Facebook a propósito da proposta Merkel / Sarkozy de cada país da zona euro colocar um tecto de endividamento no texto da Constituição.

O Presidente  Cavaco Silva tem sido / é um adepto do formalismo, nomeadamente, quando é entrevistado pelos meios de comunicação social ou quando fala oficialmente ao país: "Essa matéria é da competência do Governo ou da Assembleia da República (AR)", "Após a aprovação da lei pela AR é que me poderei pronunciar nos termos constitucionais" são o tipo de frases que mais ouvimos ao PR quando é entrevistado pelas televisões, por exemplo, e lhe é solicitada opinião sobre propostas de lei em discussão.

Mas no facebook (fb), claramente, tudo é bem mais informal. Enfim, trata-se apenas de um comentário de Cavaco Silva (e não do PR) para que os amigos do fb cliquem no "gosto" ou "não gosto". E, assim, já é possível comentar antecipadamente uma matéria da competência da AR.

Ficamos, entretanto, a aguardar um comentário de Cavaco Silva ao crescimento da dívida na Madeira. Mas, atendendo ao melindre da questão, provavelmente Cavaco Silva vai enviar mensagem ou escrever no mural de Alberto João Jardim!


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Europa está à beira do precipício

Não sou eu quem o diz, mas sim Jacques Delors (antigo presidente da Comissão Europeia). Aparentemente, continuamos no "so far so good" mas agora já bem abaixo do 7º andar!
A confusão está instalada porque a Europa fala a múltiplas vozes. A melhor analogia que já ouvi / li é a que compara a União Europeia  a um comboio em movimento com muitas correntes de opinião a gritarem para o maquinista instruções divergentes: "vira à direita, vira à esquerda, trava, acelera, etc." Pior do que isto, é que eu acho que nem sequer há maquinista!
E o caso específico de Portugal?
Hoje, em entrevista à agência Bloomberg, a partir de Estocolmo, Paul Krugman disse que Grécia, Portugal e Irlanda pertencem ao grupo dos países que, em termos fundamentais, "provavelmente estão insolventes"
O desempenho das PMEs exportadoras tem sido excelente mas o que se avizinha poderá condicionar fortemente a manutenção deste desempenho das exportações:
No mesmo depoimento, o Nobel não descarta uma nova recessão na economia global, lembrando que "mesmo os players alegadamente fortes estão a abrandar", citando os casos francês, alemão, norte-americano e chinês.


Enfim, apetece-me dizer como Woody Allen (esta frase aplica-se a quase todos os momentos da história da humanidade):
"Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher"

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Discurso de Passos Coelho no Pontal

No Comício do Pontal, Passos Coelho, mostrou já uma elevada capacidade de assimilação do estilo de Sócrates (o anterior primeiro ministro, não o filósofo grego).
Será que o actual governo contratou a mesma consultora de marketing e/ou agência de comunicação? Se não é a mesma, utiliza uma cartilha muito similar!
Vejamos alguns exemplos desta capacidade de comunicação:

"Governo tem cortado despesa todos os dias"
(Frase para 1ª página de jornal mas sem exemplos concretos que a sustentem)

"O Estado vai cortar na despesa em 2012 - uma redução sem paralelo nos últimos 50 anos"
(Corte de despesas do Estado é sempre algo impreciso e para o futuro)

"Encontramos, em relação às contas públicas, um desvio que complica o que tinhamos de fazer"
(As decisões impopulares têm sempre causas no anterior governo ou no enquadramento externo)

Espero que o actual governo mude no discurso e nas acções. Sem transparência nas acções não há discurso mobilizador. Sem um discurso sustentado em acções concretas torna-se difícil acreditar neste governo!


50 anos de Muro de Berlim


Passaram-se 50 anos desde o início da construção do Muro de Berlim (início de construção em 13 de Agosto de 1961).

Ao longo dos seus quase 30 anos de existência, perderam a vida 136 pessoas ao tentar passar de Leste para Ocidente.

Sou europeísta convicto porque acredito que todos podemos ganhar se os problemas actuais e futuros forem resolvidos colectivamente. Hoje em dia, enfrentamos problemas (e não estou só a falar de problemas económicos) para os quais não existem soluções locais, apenas soluções colectivas, globais.
                
A União Europeia (UE) tem sido essencial para manter a paz na Europa e tem a dimensão necessária para que seja considerada, em termos geoestratégicos, na disputa de poder global (económico e não só) entre os grandes blocos (China, Rússia, Índia, Japão e EUA) constituídos após o desmembramento da URSS. Para além disso, não podemos esquecer que estamos geograficamente na Europa e que somos parte dos valores que suportam a “cultura” europeia.

Resumindo, sou europeísta por uma questão de princípios.

Os líderes europeus continuam a navegar à vista (como diz Mário Soares) “entalados” pelas sondagens nos seus países (Alemanha e França, principalmente) por opiniões públicas voláteis e que olham a para a construção da UE ao sabor dos seus interesses pessoais, corporativos (frequentemente egoístas) do momento.

Assim, a extrema direita cresce, em vários países europeus, suportada na defesa de ideias políticas isolacionistas e proteccionistas completamente contrárias ao espirito de construção da Europa. Enfim, defende-se a construção de novos “muros” entre os países europeus e destes com o resto do mundo.

Acho que ainda não percebemos bem o caminho que podemos percorrer caso não exista, rapidamente, um aprofundamento da construção política e económica da União Europeia. Não por causa da crise, mas sim porque é o desenvolvimento natural da ideia da Europa que nasceu em  Roma em 1957.

Por favor...mais muros não!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Democracia de Cesário da Silva

Cesário da Silva, homem distinto, de mãos robustas, olhar sereno e sorriso bem mais doce que o mel. Os óculos, gastos pelas longas horas de leitura, assentes num rosto de pele enrugada onde ainda resistia um escasso bigode esbranquiçado, davam-lhe um certo ar intelectual. Os traços bem delinedos e os olhos castanhos amendoados não deixavam dúvidas... Em jovem, fora certamente um belo homem!...


Calcorreara, durante anos, longos quilómetros de caminhos e ruelas, ladeados por vegetação agreste, de feira em feira, para vendar as tamancas talhadas pelas suas próprias mãos. O peso que fora carregando e as intempéries que enfrentara tinham-lhe entorpecido os ossos, mas nunca lhe haviam diminuído a ânsia inata de alimentar a alma através da leitura, onde, sofregamente, buscava a sabedoria.


Cesário da Silva completara a 4ª classe com distinção. Fora um senhor na sua aldeia. Na "venda" ou na taberna, era habitual agruparem-se algumas pessoas para o ouvirem ler as poucas notícais que iam chegando a Porto Antigo (Cinfães). Lia-as e explicava-as para que todos pudessem acompanhar o que se ia passando no país e no mundo. Cesário da Silva lia e sabia... sabia muito!


Tinha cerca de doze anos quando lhe perguntei o que era a democracia. Lembro-me, entre outras, das palavras liberdade, igualdade e justiça. Com aquele idade não consegui estruturar a abrangência de todos esses conceitos e muito menos o que lhes estava subjacente.


Mas, falo de Cesário da Silva, meu avô, porque foi dele que ouvi a mais singular definição de democracia, "Democracia é poder ler sem precisar de me esconder". Não sei se, naquele momento, percebi, claramente, o verdadeiro significado da afirmação. Acredito que só quem viveu na ditadura, privado dos direitos essenciais e de bem estar social, conseguirá entender a verdadeira génese da democracia.


Para mim, a cultura democrática (como eu a entendo), de cidadania ativa, reivindicativa dos seus direitos, está esbatida numa cultura autoritária e de submissão que não tem deixado desenvolver o acesso aos direitos por parte daqueles que mais necessitam deles. A coabitação dos valores democráticos com fortes grupos de pressão que privatizam o Estado e transformam em pseudo direitos os previlégios obtidos através de fortes influências sociais e políticas, adulteram o verdadeiro sentido da democracia. Poderá em democracia haver discrepância entre a declaração formal dos direitos cívicos, políticos, económicos, sociais e culturais e a sua efetiva aplicação? Supostamente, não.


Então, será a democracia uma utopia? Como dizia o romancista alemão Robert Musil "Uma utopia é uma possibilidade que pode efetivar-se no momento em que forem removidas as circunstâncias provisórias que obstam à sua realização". Ora, no nosso sistema democrático, a ânsia desenfreada pelo poder, a suspeição política, as debilidades no sistema de justiça, o vazia ideológico, entre muitos outros que pululam por aí, continuam a ser opositores à democracia, portanto, continuam a obstar à sua realização...


O próprio Thomas Moore, a propósito da sua "Utopia", afirmou "Desejo-o mais do que espero". Eu também desejo uma Democracia efetiva. Porém, por agora, vou fazendo jus à definição de Cesário da Silva, "Democracia é poder ler sem precisar de me esconder". Pelo menos isso, para já, é um direito adquirido.


Efetivamente, é na leitura que reside a minha liberdade!...

Motins em Londres

O início do mês de Agosto está a ser marcado pelo acentuar da crise dos mercados bolsistas em todo o mundo e, em simultâneo, pelos acontecimentos em Londres. Muitas notícias e comentários associam as duas situações. Mas será assim? Quer dizer, os motins em Londres são uma espécie de resposta às medidas de austeridade que têm vindo a ser implementadas em vários países da Europa incluindo Reino Unido ou resultam, principalmente, de outra conjugação de aspectos sociais e culturais eventualmente presentes nos grandes centros urbanos europeus? Não é fácil responder...
Aparentemente, o rastilho terá sido uma intervenção não explicada (ainda?) da polícia em Tottenham de que resultou a morte de um cidadão daquela zona de Londres. Poder-se-ia compreender uma revolta forte da população local com manifestações e outro tipo de acções de protesto. No entanto, claramente a situação resvalou para vandalismo "puro e duro". Parece-me que é importante analisar e compreender as causas desta actuação de jovens entre os 16 e os 20 anos mas, em simultâneo, e no curto prazo, é expectável uma actuação firme da polícia inglesa. Não pode ser justificável ou defensável o vandalismo que prejudica em primeira análise a população local.
Retiro de um site (esquerda.net) uma alusão ao comentário do sociólogo Boaventura Sousa Santos:
"Segundo o sociólogo português, estes acontecimentos, ao contrário do que se passou nos anos 80, não resultam tanto de uma questão marcadamente racial, mas sim devido ao consenso social que «rebentou», resultado da situação de declínio económico na Europa e das sucessivas receitas de austeridade"
Os comentários de (alguns) sociólogos (de que Boaventura de Sousa Santos é o expoente máximo)  é evidentemente respeitável mas, neste caso, faz-me lembrar os comentários de um outro sociólogo inglês do início dos anos 70...


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Férias judiciais deixam "burlona" em liberdade

Esta semana, mais uma notícia que demonstra o estado exemplar da justiça em Portugal:
 "A mulher procurada por fugir sem pagar em bombas de gasolina foi apanhada pela polícia, mas saiu em liberdade por causa das férias judiciais.
A suspeita de mais de 300 casos de fuga apenas ficou com a medida de coacção de Termo de Identidade e Residência.
O esquema da ex-funcionária pública era simples, mas bastante rentável. A mulher chegava a um posto de combustível, abastecia a viatura e colocava-se em fuga. 
Os militares da GNR não a apanharam em flagrante delito, o que acabou por ser determinante na libertação da mulher."

Aparentemente, há um sistema de justiça durante, cerca de 10 meses do ano, e um outro sistema, substancialmente diferente, nos restantes 2 meses (férias judiciais).
Na TVI, ouvi com atenção, a explicação dada por um advogado (ou seria um magistrado?) quanto à inteira legalidade desta situação. Quando há situações absurdas há sempre explicações absurdas.


 Absurdo por absurdo, prefiro sempre os Monty Python. Vejam como funcionava a justiça no Reino Unido em 1970.