A crise dos últimos dias resulta em larga medida de ações pouco responsáveis e surpreendentes de Victor Gaspar e Paulo Portas. Estas ações tiveram um impacto muito significativo na credibilidade do governo e reduziram o espaço de manobra para a implementação de medidas acordadas com a "troika", nomeadamente no que se refere à redução do défice orçamental pelo lado da despesa.
No entanto, este governo enfraquecido, remodelado ou não, tem virtudes quando comparado com a alternativa que se nos depararia caso existissem eleições antecipadas em setembro de 2013. Não existiria maioria parlamentar estável e teriamos António José Seguro como 1º ministro.
Do Presidente da República (PR) seria expectável, de qualquer forma, que não acrescentasse instabilidade à situação, ou seja, pedia-se uma solução clarificadora.
Mas o PR entreteve-se a ouvir partidos, associações empresariais, sindicatos e figuras públicas enquanto desenhava (maquinava?) uma solução em que ele próprio passa a ser o centro das atenções e decisões.
O compromisso de salvação nacional promovido pelo PR, apresenta, pelo menos, dois tipos de problemas:
1. A curto prazo, coloca o atual governo, ainda, sob maior pressão. Dá mais força às múltiplas forças corporativas (por exemplo, oligopólios empresariais e sindicatos da administração pública) que contestam o governo (para manter benefícios indevidos) e fragiliza a capacidade do governo para implementar medidas que reduzam a despesa do Estado. De referir que o atual governo, já revelava uma reduzida capacidade de mudar o "status quo", bastando recordar o adiamento sucessivo da apresentação do plano de reforma do Estado nas mãos (?) de Paulo Portas.
2. A médio prazo retira espaço de manobra ao PS, como partido alternativo em próximas eleições. Quer dizer, a alternância no governo que se poderia prever em 2015 entre o PSD e o PS conduziria, diz-nos a história, à manutenção do rumo atual, ou seja, cumprimento dos compromissos internacionais estabelecidos para redução do défice (com maior ou menor eficácia na renegociação da dívida que terá de ser efetuada).
O PS, enquanto oposição, tem um discurso progressivamente "encostado" à esquerda com promessas generalistas e com reduzida substância que muda quando chega ao governo e é confrontado com a chamada "realidade" (o mesmo aconteceu com Passos Coelho).
Ao tomar esta decisão o PR, está a "colar" o PS ao PSD e CDS retirando-lhe capacidade de ganhar eleitorado à sua esquerda e limitando, assim, a possibilidade de se constituir como alternativa ao atual governo.
Este fenómeno é já visível noutros países da Europa (Grécia, Irlanda e França, por exemplo) com a queda da tendência de voto dos partidos europeístas e o crescimento do eleitorado potencial de partidos nacionalistas (de extrema esquerda e direita).
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