terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Grândola Vila Morena

Gosto da canção Grândola Vila Morena. Faço esta afirmação não por ser "politicamente correcto" mas porque gosto, no geral, das canções de José Afonso.

A questão do "politicamente correcto" é manifestamente importante hoje em dia. Se Passos Coelho na Assembleia da República ou Miguel Relvas no Clube de Pensadores em Gaia manifestassem algum tipo de contrariedade perante a situação, seriam imediatamente "dizimados" e etiquetados como anti-democráticos.

Gosto especialmente na canção da parte em que se diz "o povo é quem mais ordena". José Afonso refere "o povo" e não o secretariado de um qualquer partido político. Por isso, provavelmente, José Afonso estaria a pensar num sistema político democrático pluripartidário em que a escolha dos deputados fosse efectuada, directamente, pelos cidadãos.

Não estaria seguramente a pensar num sistema político de um só partido, como o que existia antes do 25 de Abril e ainda existe em vários países do mundo.

Provavelmente, estaria a pensar num sistema político baseado em círculos uninominais em que cada cidadão pudesse escolher o seu representante na Assembleia da República e em que o "povo" soubesse  quem o representava. Talvez, assim, estivessemos mais próximos de um sistema político democrático em que "o povo é quem mais ordena".

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Como Marçal Grilo exemplifica a responsabilidade do sistema político pela situação atual

Em entrevista ao Expresso (de 26 de janeiro de 2013) perguntam a Marçal Grilo (ex ministro da Educação de António Guterres entre 1995 e 1999):

Se a Europa introduziu aqui regras, fundos, civilização, um módico da chamada governance, porque é que nos encontramos numa situação tão confrangedora?

"...Demos demasiada prioridade à obra pública. O chamado betão. Muita autoestrada, muito centro cultural, muito pavilhão desportivo, muita piscina. Muito imobiliário, muitas instituições novas do Estado. Exagerou-se a carga no orçamento. Há uma área em que os portugueses são deficitários em relação à racionalidade do processo. Têm a ideia de que o Estado é uma entidade mítica alimentada financeiramente por algo que não tem a ver com os cidadãos. No período em que passei pelo governo, os debates no Parlamento com a oposição eram sempre a mesma coisa, os mesmos temas. A oposição pretendia que se gastasse mais, se investisse mais. Saúde, educação, obras públicas, sobretudo desporto. Todos os partidos afinavam pelo mesmo diapasão, talvez o mais moderado nesta matéria fosse o CDS. O investimento era sempre insuficiente. Recordo uma reunião entre a comissão da Educação e a de Economia e Finanças, na discussão do orçamento, quem presidia essa reunião era a dra. Manuela Ferreira Leite. Recordo-me de ver um deputado do PSD fazer uma proposta de gastos brutais e de ouvir a dra Ferreira Leite dizer-me "é completamente irresponsável, não tem a mais pequena ideia do que é um orçamento". Isto mostrava que não se tinha a noção das contas e de que o orçamento é feito com o dinheiro dos cidadãos."