"Não se
combate o nacionalismo com semi-nacionalismo, ou com nacionalismo mitigado, ou
sendo compreensivo para com as razões de queixa dos nacionalistas. Nos anos 20,
as queixas de nacionalistas alemães e italianos eram de não ter espaço para
viver sem colonizar os países vizinhos, ou da falta que lhes fazia um império,
ou que os judeus (a que os estalinistas chamariam “cosmopolitas desenraízados”)
eram um empecilho para o florescimento nacional. As razões de queixa dos
nacionalistas de hoje, a começar por trumpistas e defensores do
"Brexit", é que os imigrantes são um empecilho e os muçulmanos um
horror, que os outros países não fazem as coisas como nós gostaríamos, que a UE
é abominável e que não querem ter de obedecer a regras comuns para participar
no mercado único ou no sistema internacional. A forma correta de responder não
é dizer "sabem, eles até têm uma certa razão". A forma correta de
responder é dizer-lhes: as vossas exigências são ilegítimas, inatendíveis e
injustas, historicamente incultas e ignorantes, e não vos cederemos um
milímetro de espaço ideológico. Continuaremos a afirmar o patriotismo dos
direitos humanos, que não seria sequer pensável sem cosmopolitismo, e lutaremos
para melhorar (e não enterrar) a UE, que apesar de tudo é a organização
internacional onde a cidadania para lá do estado-nação se encontra mais
desenvolvida.
Porque é
aqui que bate o ponto. Que a alguém passe pela cabeça que, neste momento da
história, o seu principal adversário é a União Europeia e o euro, enferma de
uma irresponsabilidade apenas comparável à daqueles que nos anos 30 achavam que
o problema estava mesmo na democracia burguesa e na Sociedade das Nações. A
União Europeia — com a sua indispensável democratização e o seu reforço — é
ainda o melhor exemplo de que se pode construir um espaço de cidadania contra
os egoísmos destrutivos do nacionalismo. Quem aplicar a maior parte das suas
forças a enfraquecer a UE terá décadas para se arrepender mais tarde. Melhor
seria que se arrependesse já e arrepiasse caminho a tempo.