domingo, 18 de setembro de 2011

Vão-se os anéis... ficam-se as mágoas!

Há dias, ao conversar com uma amiga, senti-lhe a nostalgia no olhar vago e sombrio. Não lhe sentia a alegria na voz. Em vez de um sorriso aberto e contagiante, insinuavam-se-lhe no rosto umas leves rugas de expressão… expressão triste, reveladora de um quase desespero. Uma simples interpelação e os belos olhos verdes inundaram-se de lágrimas. Em segundos, um choro sufocado terminou num abraço terno, numa inefável partilha de sentimentos que só uma verdadeira amizade é capaz de vivenciar.

“Vendi tudo…” , disse numa voz ténue, quase inaudível. E assim fora, num momento de desespero, o culminar de muitos outros momentos de incertezas e inseguranças, vendera todo o ouro e toda a prata da família (anéis, pulseiras, brincos…). Aparentemente, resolvera um problema, mas muitos problemas inerentes ficaram, seguramente, por resolver.

Deste ato muito refletido, mas irrefletido, ficou a mágoa atroz que a rói por dentro e a deixa com o coração excessivamente apertado. Diz o ditado, “vão-se os anéis, ficam-se os dedos”. Neste caso, diria eu “vão-se os anéis, ficam-se as mágoas e o desespero”. É que não se trata de um delapidar de algo materialmente valioso, trata-se de uma perda muito maior. Com os “anéis” vai-se toda uma história de vida. Vão-se todas as memórias, recordações e simbolismos. A cada “anel” estão associadas conversas, palavras, cheiros, sons, afetos, …toda uma saga familiar!

E ali estava a minha amiga, com o coração desfeito e o olhar vazio, tão vazio quanto a sua alma e cada um dos seus bolsos. Sim, porque era já de bolsos vazios que tentava restabelecer as suas forças. O dinheiro arrecadado na venda já estava gasto. Na verdade, restava-lhe o mero reconforto de uma única certeza: sem livros e material escolar os filhos não tinham ficado.

Que sociedade é esta? Que política social é esta? Que crise é esta que está a fazer-nos hipotecar até as nossas mais íntimas memórias?

Quando me deparo com pessoas com esta total ausência de alternativas, sinto-me impelida a criticar, veementemente, este sistema democrático. Até as palavras de Jean Rostand (às quais recorro para confrontar os que se limitam a fazer críticas inconsistentes à democracia), “Enquanto houver ditaduras, não terei coragem de criticar uma democracia.”, me apetece refutar.

Estou triste… sinto-me impotente!

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