A situação na Madeira veio evidenciar, basicamente, que o actual sistema político deve ser alterado.
Se um político eleito, que gere dinheiros públicos, fizer uma gestão responsável, ou seja, executar obra de acordo com critérios de prioridade adequados, tendo em atenção os recursos disponíveis e a sustentabilidade da entidade que dirige, provavelmente não será reeleito.
Se um político fizer uma gestão irresponsável e/ou incompetente mas que permita inaugurar o que quer que seja alguns meses antes das eleições, independentemente, de ter hipotecado a sustentabilidade da gestão nos anos seguintes, provavelmente será reeleito.
Alberto João Jardim (AJJ), por exemplo, tem sido sucessivamente reeleito nesta base. Inauguração de manhã e à tarde nos últimos meses antes das eleições traz sempre aplausos dos beneficiados (mesmo que sejam poucos) e é notícia na rádio ou jornal local independentemente da relação custo / benefício / disponibilidade de recursos.
O que é um facto é que, quando exercemos o direito de voto analisamos o comportamento "visível " dos candidatos, a maior parte das vezes no domínio que nos afecta mais directamente e nunca o relatório e contas da entidade.
Assim, afirmar que serão os eleitores a penalizar a gestão irresponsável de AJJ parece-me uma quase completa utopia.
O Tribunal de Contas, aparentemente, efectuou vários relatórios alertando para a situação. É verdade, existe o Tribunal de Contas, mas já percebemos que ao longo dos anos a sua intervenção é valorizada quando dá jeito e desvalorizada a maior parte das vezes por quem está nos orgãos de decisão (governo, regiões, autarquias). A sua eficácia tende, como tal, para zero!
Quando algo não corre bem é necessário corrigir. Mas ensina-nos a gestão e o bom senso que corrigir não chega. É necessário encontrar as causas que levaram ao problema e definir e implementar as acções correctivas correspondentes. Se não for assim pagaremos agora (correcção) e o problema ficará - voltaremos a pagar mais tarde!
domingo, 25 de setembro de 2011
domingo, 18 de setembro de 2011
Vão-se os anéis... ficam-se as mágoas!
Há dias, ao conversar com uma
amiga, senti-lhe a nostalgia no olhar vago e sombrio. Não lhe sentia a alegria
na voz. Em vez de um sorriso aberto e contagiante, insinuavam-se-lhe no rosto
umas leves rugas de expressão… expressão triste, reveladora de um quase
desespero. Uma simples interpelação e os belos olhos verdes inundaram-se de
lágrimas. Em segundos, um choro sufocado terminou num abraço terno, numa
inefável partilha de sentimentos que só uma verdadeira amizade é capaz de
vivenciar.
“Vendi tudo…” , disse numa voz
ténue, quase inaudível. E assim fora, num momento de desespero, o culminar de
muitos outros momentos de incertezas e inseguranças, vendera todo o ouro e toda
a prata da família (anéis, pulseiras, brincos…). Aparentemente, resolvera um
problema, mas muitos problemas inerentes ficaram, seguramente, por resolver.
Deste ato muito refletido, mas
irrefletido, ficou a mágoa atroz que a rói por dentro e a deixa com o coração excessivamente
apertado. Diz o ditado, “vão-se os anéis, ficam-se os dedos”. Neste caso, diria
eu “vão-se os anéis, ficam-se as mágoas e o desespero”. É que não se trata de
um delapidar de algo materialmente valioso, trata-se de uma perda muito maior.
Com os “anéis” vai-se toda uma história de vida. Vão-se todas as memórias,
recordações e simbolismos. A cada “anel” estão associadas conversas, palavras,
cheiros, sons, afetos, …toda uma saga familiar!
E ali estava a minha amiga, com o
coração desfeito e o olhar vazio, tão vazio quanto a sua alma e cada um dos
seus bolsos. Sim, porque era já de bolsos vazios que tentava restabelecer as
suas forças. O dinheiro arrecadado na venda já estava gasto. Na verdade,
restava-lhe o mero reconforto de uma única certeza: sem livros e material
escolar os filhos não tinham ficado.
Que sociedade é esta? Que
política social é esta? Que crise é esta que está a fazer-nos hipotecar até as
nossas mais íntimas memórias?
Quando me deparo com pessoas com esta
total ausência de alternativas, sinto-me impelida a criticar, veementemente,
este sistema democrático. Até as palavras de Jean Rostand (às quais recorro
para confrontar os que se limitam a fazer críticas inconsistentes à
democracia), “Enquanto houver ditaduras, não terei coragem de criticar uma
democracia.”, me apetece refutar.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Congresso do PS
Acompanhei, com alguma atenção, o congresso do PS. Confesso que, como "outsider" (não sou militante do PS nem de nenhum outro partido político), preferia que o secretário geral fosse Francisco Assis (FA).
Não gostei, sinceramente, do tacticismo permanente de António José Seguro (AJS) durante o "período socrático", quer dizer, um silêncio que em qualquer momento AJS poderia descrever como apoio ou como crítica (aparentemente, de acordo com o que fosse mais conveniente para a sua estratégia pessoal).
De forma indirecta FA critica AJS em relação a esta postura ao dizer em entrevista ao Jornal i (edição deste fim de semana): "Não vou fugir, nem me vou refugiar em nenhum silêncio cómodo".
A forma como decorreu o congresso veio confirmar as minhas reservas, com o ressurgimento da ala mais à esquerda do PS que eu costumo designar como "esquerda Maio 68" (encabeçada por Manuel Alegre - cuja influência é mais mediática que real - Ana Gomes, Ferro Rodrigues, entre outros), enfim, uma espécie de ressurreição do PS que estava no fundo da gaveta.
Mas é normal! Esta ala esquerda aparece em força na oposição e é recolocada na gaveta assim que o PS vence as eleições.
O futuro de AJS como líder do PS não será nada fácil, "entalado" pelo acordo com a troika assinado por Sócrates, por esta ala esquerda com um discurso assente na "defesa do Estado Social" e por protagonistas internos que aguardam melhor oportunidade, António Costa à frente apesar da votação expressiva de FA para a comissão nacional.
Não gostei, sinceramente, do tacticismo permanente de António José Seguro (AJS) durante o "período socrático", quer dizer, um silêncio que em qualquer momento AJS poderia descrever como apoio ou como crítica (aparentemente, de acordo com o que fosse mais conveniente para a sua estratégia pessoal).
De forma indirecta FA critica AJS em relação a esta postura ao dizer em entrevista ao Jornal i (edição deste fim de semana): "Não vou fugir, nem me vou refugiar em nenhum silêncio cómodo".
A forma como decorreu o congresso veio confirmar as minhas reservas, com o ressurgimento da ala mais à esquerda do PS que eu costumo designar como "esquerda Maio 68" (encabeçada por Manuel Alegre - cuja influência é mais mediática que real - Ana Gomes, Ferro Rodrigues, entre outros), enfim, uma espécie de ressurreição do PS que estava no fundo da gaveta.
Mas é normal! Esta ala esquerda aparece em força na oposição e é recolocada na gaveta assim que o PS vence as eleições.
O futuro de AJS como líder do PS não será nada fácil, "entalado" pelo acordo com a troika assinado por Sócrates, por esta ala esquerda com um discurso assente na "defesa do Estado Social" e por protagonistas internos que aguardam melhor oportunidade, António Costa à frente apesar da votação expressiva de FA para a comissão nacional.
domingo, 11 de setembro de 2011
Bastonário da Ordem dos médicos e fast food
O bastonário da Ordem dos Médicos (BOM) sugeriu recentemente a criação de um imposto suplementar (porque todos os produtos de consumo já pagam IVA) sobre a chamada comida fast food.
Trata-se de uma novidade! Para além desta, o BOM referiu outra ao dizer: "É também em nome da Qualidade que temos pugnado pela não abertura do curso de medicina de Aveiro. Segundo um relatório da Universidade de Coimbra, efectuado a pedido do anterior Governo, no ano 2020 teremos seis mil especialistas médicos a mais, com redução da Qualidade, aumento da despesa e mercantilização da saúde."
Quer dizer, a OM defender a não abertura de um novo curso de medicina não é novidade. O que é novidade, é a OM estar preocupada com a "redução da qualidade, aumento da despesa e mercantilização da saúde". Ainda não tinha notado isso!
Julgava (mas, aparentemente, estava enganado) que a OM defendia o bem estar da corporação médica com a manutenção do status quo actual (por exemplo, manutenção do regime de horas extraordinárias no SNS e do preço exorbitante de consultas de especialidade no privado, dada a aparente escassez de oferta).
Seria preferível que o BOM olhasse para o umbigo (leia-se, classe médica) e sugerisse acções que possam levar à eliminação de desperdícios no SNS e/ou à redução de custos da saúde para os cidadãos. Por exemplo, encontrar as causas para a baixa prescrição de genéricos em Portugal (segundo últimas estatísticas os genéricos em Portugal representam 18% do mercado e na generalidade dos países da Europa cerca de 50%).
Com o anunciado corte de despesas no Estado a OM foi lesta em sugerir medidas de aumento de receitas do Estado à custa dos contribuintes para financiar o SNS. Será para manter a qualidade do SNS e zelar pelos utentes?
Se é assim, até posso sugerir mais um imposto. Nos centros comerciais a circulação nas escadas rolantes e elevadores deveria ser taxada. Há, seguramente, dezenas de estudos que nos mostram que quem não sobe escadas ("preguiçosos(as)") tem maiores riscos de ter problemas de saúde e onerar o SNS. Que paguem a taxa...
Trata-se de uma novidade! Para além desta, o BOM referiu outra ao dizer: "É também em nome da Qualidade que temos pugnado pela não abertura do curso de medicina de Aveiro. Segundo um relatório da Universidade de Coimbra, efectuado a pedido do anterior Governo, no ano 2020 teremos seis mil especialistas médicos a mais, com redução da Qualidade, aumento da despesa e mercantilização da saúde."
Quer dizer, a OM defender a não abertura de um novo curso de medicina não é novidade. O que é novidade, é a OM estar preocupada com a "redução da qualidade, aumento da despesa e mercantilização da saúde". Ainda não tinha notado isso!
Julgava (mas, aparentemente, estava enganado) que a OM defendia o bem estar da corporação médica com a manutenção do status quo actual (por exemplo, manutenção do regime de horas extraordinárias no SNS e do preço exorbitante de consultas de especialidade no privado, dada a aparente escassez de oferta).
Seria preferível que o BOM olhasse para o umbigo (leia-se, classe médica) e sugerisse acções que possam levar à eliminação de desperdícios no SNS e/ou à redução de custos da saúde para os cidadãos. Por exemplo, encontrar as causas para a baixa prescrição de genéricos em Portugal (segundo últimas estatísticas os genéricos em Portugal representam 18% do mercado e na generalidade dos países da Europa cerca de 50%).
Com o anunciado corte de despesas no Estado a OM foi lesta em sugerir medidas de aumento de receitas do Estado à custa dos contribuintes para financiar o SNS. Será para manter a qualidade do SNS e zelar pelos utentes?
Se é assim, até posso sugerir mais um imposto. Nos centros comerciais a circulação nas escadas rolantes e elevadores deveria ser taxada. Há, seguramente, dezenas de estudos que nos mostram que quem não sobe escadas ("preguiçosos(as)") tem maiores riscos de ter problemas de saúde e onerar o SNS. Que paguem a taxa...
sábado, 3 de setembro de 2011
Conferências de imprensa do Ministro das Finanças
O Ministro das Finanças anunciou já três conferências de imprensa para apresentar medidas de corte de despesa do Estado. Aguardo a realização destas conferências de imprensa que ainda não se concretizaram...
Nem quero pensar no que vai acontecer aos contribuintes portugueses (aparentemente, para o Estado estamos reduzidos à condição de contribuintes) quando o ministro agendar uma conferência de imprensa para anunciar aumento de impostos...
Mas, Victor Gaspar, de acordo com a comunicação social, foi muito duro com Alberto João Jardim (AJJ) ao afirmar que a situação na Madeira "é insustentável".
Dois dias depois, o mesmo ministro das Finanças, disse na comissão parlamentar de orçamento e finanças que "o Presidente do Governo Regional da Madeira escreveu uma carta ao primeiro ministro pedindo um programa de ajustamento estrutural e de estabilização financeira" (isto, basicamente, é um pedido de pagamento do Governo Regional à República).
Aparentemente, esta carta enviada por AJJ ao 1º ministro Passos Coelho mudou tudo...e a situação de "insustentável" passou a situação já contabilizada anteriormente (palavras do 1º ministro).
Entretanto, António José Seguro já veio exigir que o teor da carta seja divulgado.
Compreende-se...a minuta desta carta vale ouro (pelo menos, 500 milhões de euros) e existe, seguramente, uma fila de interessados (a começar pelo Governo Regional dos Açores) em utilizar este poder milagroso de uma carta endereçada ao 1º ministro!
Nem quero pensar no que vai acontecer aos contribuintes portugueses (aparentemente, para o Estado estamos reduzidos à condição de contribuintes) quando o ministro agendar uma conferência de imprensa para anunciar aumento de impostos...
Mas, Victor Gaspar, de acordo com a comunicação social, foi muito duro com Alberto João Jardim (AJJ) ao afirmar que a situação na Madeira "é insustentável".
Dois dias depois, o mesmo ministro das Finanças, disse na comissão parlamentar de orçamento e finanças que "o Presidente do Governo Regional da Madeira escreveu uma carta ao primeiro ministro pedindo um programa de ajustamento estrutural e de estabilização financeira" (isto, basicamente, é um pedido de pagamento do Governo Regional à República).
Aparentemente, esta carta enviada por AJJ ao 1º ministro Passos Coelho mudou tudo...e a situação de "insustentável" passou a situação já contabilizada anteriormente (palavras do 1º ministro).
Entretanto, António José Seguro já veio exigir que o teor da carta seja divulgado.
Compreende-se...a minuta desta carta vale ouro (pelo menos, 500 milhões de euros) e existe, seguramente, uma fila de interessados (a começar pelo Governo Regional dos Açores) em utilizar este poder milagroso de uma carta endereçada ao 1º ministro!
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